Fruta de carne
"É o melhor restaurante novo do mundo." (Giles Coren, The Times)
"Foi a melhor comida que tive nos últimos dois anos." (Mark Hix, The Independent)
"Dinner recupera e reinventa a nossa herança culinária, revigorando as ortodoxias ordinárias e extenuadas da cozinha britânica." (Matthew Fort, The Guardian)
"A melhor coisa sobre Dinner é a qualidade nunca antes associada a uma divindade do Michelin. É um divertimento colossal." (Matthew Norman, Daily Telegraph)
E por aí foi. Em meus quase 15 anos de Londres vi poucos hypes como o auê agitado pela mídia em torno da estréia do novo restaurante de Heston Blumenthal.
A expectativa era grande, pois o Dinner é a primeira aventura do chef em Londres. E seu primeiro restaurante - na cidadezinha de Bray, a uma hora de Londres -, o consagrado Fat Duck, três estrelas no Guia Michelin, era tido como o melhor restaurante da Grã-Bretanha.
Instalado no hotel Mandarin Oriental, ao lado do Hyde Park, o Dinner oferece uma tour pelo passado culinário da Grã-Bretanha.
Blumenthal passou 18 meses pesquisando livros de diferentes épocas para criar os 25 pratos do menu. Pratos como porridge aromático (1660), pomba picante (1780), caldo de ovelha (1730), pudim de peru (1730), bacalhau em cidra (1940), torta em tafetá (1830) ou rubarbo escaldado (1590).
No cardápio, os fregueses ficam sabendo de onde veio cada receita, que, por exemplo, a inspiração para o arroz com carne (açafrão, rabo de bezerro e vinho tinto) veio de The Forme of Cury (1390), escrito pelos cozinheiros-chefes da corte de Ricardo 3º, que o pato pulverizado (com funcho defumado e purê de batatas) veio de The Queene-like Closet or Rich Cabinet , de Hannah Wooley (1672), o salamugundi (salada de folhas, frutas, moela de galinha, raiz forte e tutano) de The Cook and Confectioner’s Dictionary (1723), de John Nott.
Blumenthal foi enfático ao dizer que não tentou apenas reproduzir as receitas originais, mas que usou-as como ponto de partida para novas criações, com novos ingredientes, sempre apostando na abordagem científica da chamada cozinha molecular.
O Guardian convidou um historiador para dar sua opinião sobre o restaurante. Este chama-o de “país de maravilhas históricas culinárias” e elogia a abordagem cosmopolita e a assimilação de influências globais de Blumenthal, que “com sua pesquisa rigorosa e seu toque de chefe, se compromete com a história, em vez de sucumbir a ela”.
Os críticos, que usaram superlativos como “maravilhoso” e “surpreendente” nas resenhas, foram praticamente unânimes em eleger um prato como a grande sensação do Dinner: a meat fruit (fruta de carne) ), inspirada em pratos do final da Idade Média.
Parece uma fruta (uma tangerina). A casca é feita de uma suave geléia de fruta. O recheio é um patê de fígado de galinha. “Um suspiro, depois uma risada, seguida por um gosto maravilhoso”, descreveu o crítico do Times, ao provar o prato.
Para os jornais, o restaurante é caro. O Guardian estima em 42 libras (R$ 111) um gasto mínimo razoável por pessoa, porém diz que “pela surpresa, pelo deleite e pela originalidade, é um preço que notoriamente vale ser pago”.
Para uma experiência dessas, pagaria isso mole. É mais em conta do que um ingresso para muito show de rock ou musical. O problema é conseguir fazer a reserva. A espera é de mais de três meses.