O 'cilbir' e a exuberância da páprica
Uma leitora (agora ex-leitora, temo) reclamou da falta de fotos de pratos citados em posts anteriores, alegando ser inconcebível manter um blog de receitas sem mostrar imagens. Ela estaria certa se isso fosse um blog de receitas, mas não é – é um espaço para compartilhar experiências de exploração do universo foodie em Londres e na Europa.
Mas a leitora tem toda razão ao reforçar a inextrincabilidade da ligação entre comida e imagem. É possível descrever bem uma ceia de Natal apenas com palavras. Mas um texto muito bem escrito não bate uma boa foto.
E têm fotos que fazem você dizer: eu tenho que fazer (ou provar) isso. É o que essa foto ao lado fez comigo. Ela ilustra uma receita de cilbir, um prato turco, postada na internet por uma leitora do site de receitas .
Cheguei nesse site depois de ler sobre cilbir pela primeira vez no caderno de comida do Times, na semana passada. O cilbir consiste basicamente em ovos pochê servidos com iogurte temperado e cobertos com páprica.
Para mim, essa combinação foi uma revelação. No sábado, testei a receita da Catherine - que escolhi por causa da foto –, depois de passar por um certo sufoco, na sexta, para achar um ingrediente que nunca tinha experimentado, muito menos comprado na vida: páprica defumada, outra revelação.
Um parêntese sobre a páprica (que acabei achando numa loja de conveniência): o nome é um genérico para pimentas e pimentões secos moídos, um pó vermelho que varia no sabor e na intensidade do ardor que ela provoca.
No Brasil, que me lembre, a páprica era mais leve, e tenho certeza de que seu uso é bem mais restrito do que na Europa, onde ela é usada em guisados, sopas, estrogonofe, molhos, ou para dar cor a arroz, refogados e salsichas.
Nos Bálcãs e na Hungria, onde há um ditado que diz que páprica boa é aquela que arde duas vezes (é melhor eu não entrar em detalhes), ela é quase tão comum como sal e pimenta. Mas ela surgiu na Espanha, o país que trouxe o pimentão e a pimenta à Europa (em um próximo blog eu falo mais sobre isso). E foram os espanhóis que desenvolveram a páprica defumada, com o sabor bem distinto de coisa tratada com fumaça.
Mas voltando ao cilbir. Ele é servido na Turquia como um café da manhã reforçado - e com pimenta em flocos (a maravilhosa pimenta do tipo aleppo, mais detalhes em umpróximo blog) no lugar da páprica. Mas a páprica defumada, além do gosto distinto, dá ao prato (depois de misturada com manteiga derretida) uma cor exuberante. Fica parecendo um Pollock.
Aqui vai uma versão adaptada da receita da Catherine (eu não explico como se faz um ovo pochê, favor ver aqui)
Ingredientes (para uma pessoa):
Dois ovos (quanto mais rica a gema, como em ovo caipira, melhor)
Três colheres de sopa cheias de iogurte natural
Um dente de alho picado
Uma colher de chá cheia de páprica defumada
Uma colher de sopa cheia de manteiga
Endro fresco (também conhecido com aneto ou dill)
Pitada bem generosa de sal
1.Misturar o iogurte com o sal, o endro e o alho em uma tigela, espalhar o iogurte num prato
2.fazer dois ovos pochês, colocá-los sobre o iogurte
3.derreter a manteiga, misturar com a páprica, distribuir esse molho sobre os ovos
4.servir com baguete, pita, pãozinho, enfim, algum pão bom para absorver a mistura que sobrar no prato