Ministério da Comida 2
Então. Como disse no post anterior, o racionamento foi introduzido no Reino Unido para que todos tivessem, como o governo dizia, “uma parte justa do que estava disponÃvelâ€.
E os submarinos alemães se encarregaram, pelo menos entre 1939 e 1945, de zelar para que apenas artigos essenciais estivessem na mesa dos britânicos. Entre eles os
legumes e verduras que mencionei antes, que não eram racionados. O resto dependia do estoque.
A distribuição era controlada através de cupons. Cada homem, mulher e criança fazia um registro em uma mercearia, onde recebiam um caderno, o ration book.
O governo só entregava a cada mercearia os produtos condizentes ao número de pessoas registradas.Ìý
O cidadão entrava na mercearia, entregava o caderno, fazia o pedido, o dono carimbava os cupons utilizados.
Cada pessoa podia comprar (por semana):
50 g de manteiga
225 g de açúcar
100 g de bacon ou presunto
75 g de queijo
2 ovos
As pessoas ainda podiam comprar pão, cereais e enlatados - entre eles a lata de ovo em pó (!) -, conforme o estoque permitia. Mas quem quisesse mais carne ou queijo tinha que buscar no mercado negro e correr o risco de ser preso ou multado.
Outra saÃda era seguir os ensinamentos de um livro bastante popular na época, They Can’t Ration These (Eles não podem racionar esses), escrito pelo Vicomte de Mauduit, um aristocrata e foodie francês que conhecia bem a Inglaterra e que dá uma série de dicas mostrando “onde procurar e como se aproveitar da vasta dispensa da naturezaâ€.
Ele ensina como preparar esquilos, pardais, ouriços, sapos e até cisnes, animais que podiam ser encontrados sem maiors problemas nas florestas britânicas.Ìý
E quem não tivesse o que ou onde comer - quem teve sua casa bombardeada ou quem já tinha gastado os seus cupons – podia comer nas cantinas comunitárias (foto abaixo) criadas pelo Ministry of Food e gerenciadas por comitês locais.
Só Londres tinha 200 dessas cantinas, que serviam um prato básico por 1 libra (U$2, na época). Elas não tinham fins lucrativos e eram chamadas inicialmente de Community Feeding Centers. Mas o premiê Winston Churchill achou que o nome tinha um tom comunista e rebatizou-os de British Restaurants.Ìý
A Segunda Guerra foi o conflito mais mortÃfero da história mundial, só no Reino Unido ele matou meio milhão de pessoas. Mas, para os que sobreviveram, o paÃs funcionou, nesse perÃodo, como um spa.
A dieta era à base de legumes e verduras frescas, comia-se em quantidades moderadas e quase não se consumia gordura.
As pessoas reclamavam pacas - e li que houve festa quando finalmente as bananas voltaram a aparecer nas quitandas, em 1945.
Mas deu no que deu: os casos de diabetes caÃram, e, em média, a população emagreceu e ficou mais alta.
O racionamento foi sendo gradativamente reduzido, e só terminou em 1954.
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Ouvi de filhos e netos de pessoas que viveram esse perÃodo relatos de que muitos ficaram com trauma de certos alimentos.
Como de swede, o couve-nabo-da Suécia, por exemplo, ou de coisas que foram, por perÃodos curtos, a única opção de carne disponÃvel, como carne de baleia.
Muitos passaram para os filhos hábitos como o de nunca deixar comida sobrando no prato ou jogar comida fora.
E muitos aprenderam a plantar graças à s campanhas do Ministry of Food, que acabou, sem querer, ajudando a transformar a jardinagem em uma obsessão nacional.Ìý