鶹Լ, racismo e imparcialidade
O programa de TV da 鶹Լ, é um dos principais espaços de debate político na mídia britânica. No programa, políticos de várias facções, incluindo um membro do governo, dividem uma mesa com especialistas, diante de uma platéia formada por pessoas de diferentes perfis sociais. Ao longo do programa, um membro da platéia lança um tema a ser discutido pela mesa, sob a mediação do experiente jornalista David Dimbleby, que durante o debate oferece a palavra a outros cidadãos para que questionem os políticos presentes. Trata-se de uma rara oportunidade, pouco vista mesmo em outras desenvolvidas democracias ao redor do mundo, de ver o público cobrando, diante das câmeras, aqueles que determinam o presente e o futuro da nação.
Tamanha é a importância do programa que (British National Party, ou Partido Nacional Britânico) para participar do painel pela primeira vez causou uma celeuma no país. Tudo porque o BNP não é um partido qualquer: é o representante britânico da onda de extrema direita que já assustou outros países europeus, como Áustria, França ou Holanda. O BNP defende a Grã-Bretanha para o que considera britânicos originais, ou seja, a população de origem anglo-saxã, branca. Condena a entrada de imigrantes e ataca a União Europeia, dizendo que o engajamento do país com o resto da Europa ameaça a soberania nacional. É um partido racista e fascista, dizem seus críticos, tanto do governo como da oposição. Mas a verdade é que o BNP elegeu dois membros do Parlamento Europeu no início deste ano, e a 鶹Լ, com base nessa representatividade e no princípio de imparcialidade partidária que rege suas operações, convidou o líder do partido e parlamentar europeu, Nick Griffin, para participar do Question Time nesta quinta-feira.
A pressão sobre a 鶹Լ, contra tal decisão, tem sido enorme. O ministro Peter Hain fez o que pôde para que a 鶹Լ voltasse atrás, argumentando que o BNP é um partido ilegal por só aceitar brancos como membros. A Justiça já exigiu que o partido mude suas regras internas, e o BNP prometeu acatar, mas tal mudança ainda não ocorreu. O ex-prefeito de Londres Ken Livingston disse que a 鶹Լ será moralmente responsável por qualquer aumento em ataques de cunho racista no país em consequência da exposição das ideias do BNP abertamente na TV. Em resposta, , o diretor-geral da 鶹Լ, Mark Thompson, defendeu a decisão da corporação em nome do seu princípio de imparcialidade. Disse ainda que, se o governo quiser proibir a participação do BNP em programas de TV por considerá-lo fascista, deve enviar ao Parlamento uma proposta nesse sentido. Aplicar censura, afirmou Thompson, não é responsabilidade da 鶹Լ. O ministro da Cultura, Ben Bradshaw, mostrou como o tema dividiu o governo, ao apoiar o convite ao BNP.
Horas antes da gravação e transmissão do Question Time, manifestantes já se reuniam em frente aos estúdios da 鶹Լ (foto acima), aqui em Londres, para prostestar contra a presença de Nick Griffin no programa. Griffin, aparentemente, não vê a hora de aparecer debatendo ao lado de outras figuras políticas, que o convite da 鶹Լ aumentou o prestígio do partido. Independentemente do que for dito no programa, ele provavelmente terá grande impacto em futuras discussões políticas e nas relações sociais dentro do país. Especialmente em tempos de crise econômica, desemprego crescente e dúvidas sobre o futuro político e econômico da Grã-Bretanha, o embate entre liberdade de expressão e ideias intolerantes parece estar apenas no começo.
dzԳáDzDeixe seu comentário
Esse eh um assunto bem polemico. O principio de imparcialidade nao deveria estar acima da responsabilidade que uma televisao, com o alcance da 鶹Լ, tem. Dar espaco para um partido que proibe membros negros, que defende a pureza branca e anglo - saxa eh realmente algo muito irresponsavel, para nao dizer perigoso. A democracia tambem estah em coibir manifestacoes e exposicoes de ideias completamente anti-democraticas, racistas e facistas - que colocam em risco a vida de negros e estrangeiros.
Talvez não seja boa ideia deixar este tipo de ideologia no obscurantismo e fingir que não existe. Embora não tenha sido esta a razão do programa da 鶹Լ, compreendo as razões da 鶹Լ ao invocar o princípio de imparcialidade.
É um partido que merece espaço como qualquer outro.
Estamos falando em termos democráticos aqui, permitir a democracia é permitir as idéias do BNP ou qualquer outro partido.
Censurar é mero contra-senso.
Concordo com o diretor-geral da 鶹Լ, Mark Thompson. A TV pública britânica tem todo o direito de veicular a entrevista com o político do BNP, Nick Griffin, em nome da imparcialidade que ela tem como princípio, da liberdade de expressão e também porque o político em questão detém um mandato eleitoral.
Não me parece que a legislação britânica contenha algo que proíba efetivamente tal participação, independentemente do fato dele defender idéias fascistas. Caso contrário, sequer o partido existiria e muito menos conseguiria eleger um seu membro para o Parlamento Europeu.
A matéria fala sobre algumas restrições judiciais que estão sendo impostas ao partido, como a obrigatoriedade de que aceite negros entre os filiados, apesar de que não sei se faz muito sentido obrigar que um partido alegadamente racista aceite filiar negros. Melhor seria logo que se proibisse a manifestação de idéias racistas. Neste caso, não haveria que se obrigar a filiação porque sequer existiria legalmente o partido. É provável que o racismo não seja oficialmente incorporado no programa do partido.
Não estou dizendo que é correto proibir negros de se filiar, mas, sim, que não faz muito sentido exigir que um negro possa se filiar a um partido declaradamente racista.
Retificando o meu post anterior, a restrição étnica aos filiados não se dirige apenas os negros. Qualquer tipo étnico que não seja anglo-saxão, pelo visto, tem a filiação ao BNP vetada.